14 de fev. de 2016

Zumbi de tomada



Era um dia adorável no SESC, como a tempos eu não tinha.
Tirei a manhã para esquecer as contas e o tempo escasso. Esquecer o corre corre do dia a dia.
Troquei um livro na estante de trocas. Deixei um conto policial americano, por poemas do Quintana.
Visitei as flores e li um pouco, sob o brilho peneirado do sol, entre as madeiras e telas do viveiro de plantas.
Depois, fui até a comedoria, fazer uma pausa na leitura, para comer salgados com refrigerante.
Satisfeito com a refeição, decidi fechar com café e pão de queijo.
Peguei o pedido, e fui até os bancos do outro lado do salão.
Sentei, abri o livro eletrônico e fui comendo pãozim, tomando cafezim e lendo.
Meu 6º sentido me alerta!
Olho para a frente, vejo um novo tipo de zumbi se aproximando.
Cabeça baixa, duas mãos levantadas, até a altura do peito. Fazendo cara de quem tem algo muito importante para resolver, tentando com este olhar, comover as pessoas que estão a sua volta (se é que zumbi tem conhecimento do que está a sua volta), comover para que não a repreendam pelo que está prestes a fazer.
A zumbi, olha para as paredes... aquele olhar de quem está hipnotizado.
Olha em algum ponto imaginário a 30cm do chão.
Procura desesperadamente uma tomada. Como se seu enslavingphone, fosse morrer em segundos, sem o socorro.
Sim, ela trás em suas mãos flutuantes, seu enslavingphone, na esquerda o aparelho, com seu cabo, saindo de suas entranhas, como se fosse um cordão umbilical, embaralhado no ar, ligado a outra mão onde um carregador que mais parece um desfibrilador, está empunhado com seus pinos para frente, pronto para invadir a primeira tomada que encontrar.
Até ouço seu pensamento:
- Tomada! Tomada!
- Preciso de uma tomada!!!!
Para meu azar, a única tomada deste lado do salão, está ao meu lado.40cm do meu quadril...
Recolho o meu corpo com medo de ser abocanhado, quando ela acopla seu carregador a tomada.
Um brilho de sangue novo correndo pelo corpo, surge em seu rosto.
Ela carrega, ali, de pé, apoiada contra a mureta, por alguns segundos. tempo apenas para dar sobrevida ao seu enslavingphone, então, retira o carregador e procura outro lugar mais confortável.
Não encontra, pega uma cadeira do grupo de leitura e arrasta até perto da tomada.
Zumbis são assim  mesmo, não pensam em mais nada a não ser conseguir o que lhe garanta vida por mais alguns momentos.
Passa um tempo e quando ela já está para sair dali, como que se já tivesse sugado a alma de uma pobre vítima, aproxima-se outra Zumbi... está com uma sede ainda maior... trás em suas mãos flutuantes, um notebook de 15 polegadas, com ainda mais cabos, pois, além do desfibrilador ela usa um mouse.
Sumo dali, em busca de um lugar mais seguro, longe de tomadas.