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1 de set. de 2010
Encontro com a morte
Toc Toc!
Ouço alguém batendo na porta do apartamento e estranho que não tenha ouvido alguém chamar para abrir o portão.
Levanto da cama, onde estava lendo e sigo sem muita vontade de abrir a porta... será que é um cobrador? oficial de justiça? Quem pode ser?
Humm! Talvez seja a faxineira do prédio? ou o Síndico... não o síndico de novo não. Tanto me atormentava quando era síndico... e agora quando aparece é para pedir ajuda ou explicar porque não conseguiu, ele também, pintar o prédio.
Olho pelo olho mágico e vejo que é a Dona Morte!
Imediatamente abro a porta com um grande sorriso nos lábios.
- Entre Dona Morte!
- Dona Morte não! Eu sou espada, digo foice! Maldita hora que inventaram que eu era mulher. Responde meu visitante.
- Mil perdões! É o habito... culpa das mídias que sempre se referem a você como "a morte", mas, não seja por isso que não vai entrar em casa.
Tento ser gentil e atrai-lo para dentro do apartamento. - Que bons ventos o trazem aqui?
- A quanto tempo mesmo não nos vemos? Pergunto enquanto fecho a porta atrás de "Morte".
Enquanto "Morte" entra no apartamento e seguimos até a sala de jantar, para sentarmos nas cadeiras que ainda não estão quebradas, ele responde:
- Três semanas, se considerar aquele dia que você esteve visitando seu parente no velório ou, então, nosso único encontro foi em 1986, se não me engano, no final de outubro.
- Nem fui te visitar naquele acidente de carro em 1987, porque aquilo era um acidente besta de bêbado. Me avisaram que você estava lá, mas, me recusei a ter aquilo em meu currículo.
- Até o diabo ia rir da minha cara! Por levar um cara que bateu sozinho em um poste de madeira, com a Brasília do pai, justo no quarteirão que não tinha nada além de postes. E ainda por cima na tarde da virada do ano?
- Eu tinha coisas mais importantes para fazer!
- Agradeço por não ter aparecido.
- Mas, nos meus tombos de moto em 2006 e 2007 você esteve lá? Eu senti você por perto!
- Isso é verdade! Estive presente em ambos os acidentes, mas só para me divertir um pouco, eu estava numa fase meio down, precisava de alguma distração.
- No seu acidente de novembro de 2006, o Diabo, apareceu, com duas cervejinhas geladas e me convidou para ver dois rapazes capotando uma moto 250cc a 20km por ora, no pátio da empresa. Não pude resistir.
- Você estava cômico, aquela sua cara de incredulidade, sem entender como é possível um acidente daqueles.
- Mas, e o barranco alto, o poste.. eu podia ter morrido! Questionei.
- Não. Tinha dois anjos com seus tacos de basebol, para rebater vocês de volta para o gramado, caso algo saísse fora do script.
- Sem falar que tudo foi calculado e já sabíamos que com o seu peso não iria voar por cima da grama e ainda seria um ótimo aparo para a queda daquele magrelinho.
- Maio de 2007, eu estava ali do lado no pronto socorro do hospital regional, com aquela chuva que deu, estava super atarefado. Ai, recebi o aviso que você ia passar por perto e estava atrasado para uma visita a um cliente. Então, dei um pulinho ali na esquina e fiquei só esperando para ver a cena toda.
- Sabia que aquela senhora bateu um recorde de frenagem com um "Idea" aquele dia?
- Nunca tinha visto uma mulher freiar tão repentinamente por uma vaga de estacionamento!
- Pena que você não pôde ver sua cara no momento que viu aquela traseira do carro dela crescendo na sua frente. Você tem caras ótimas nessas horas!
- Fiquei rindo sem parar e até me esqueci que podia ter mexido uns pauzinhos para um carro virar à toda naquela esquina e passar por cima de você.
A essa altura eu estava tão feliz por ter alguém com quem conversar que perguntei com a maior inocência:
- E agora, o que faz por aqui? Veio me buscar?
- Não, não! Pode ficar tranquilo! Sua hora já está anotada no meu caderninho, mas não é agora.
- É que eu estou meio cansado desse trabalho...
- Ele é muito solitário, tenho que fazer o trabalho sujo sozinho e nunca tenho o reconhecimento.
- Já pedi ajudantes, mas estão sempre recusando, dizendo que temos que conter despesas com pessoal.
- Deus e o Diabo, acham que não faço mais do que a minha obrigação e nem um obrigado dizem.
- Ai, me lembrei de você e como sei que nos últimos dias não tem feito outra coisa além de andar de um lado para o outro dentro do apartamento, achei que teria um tempinho para conversar comigo.
Me levanto e sigo em direção a cozinha enquanto afirmo:
- Poxa Dona Morte, ops, digo Senhor Morte (com um sorriso de desculpas no rosto), não podia ter vindo em melhor hora!
- Aceita uma bebidinha, uma bolachinha ou um cafézinho?
- Opa! Aceito sim, Tem Wisk?
- Me desculpe, mas, o Wisk acabou...
As gargalhadas Morte revela: - Eu sei! Mas, não pude resistir de te provocar só para ver essa cara novamente! Você é uma figura! Parece a cara de uma criança que deixou o pirulito cair no chão misturada com a cara de um cachorro que caiu do caminhão de mudança!
-HAHAHAHAHAAHAHAHA!
- Traga aquela vodka com frutas vermelhas que está na porta da geladeira a anos e aquele patê de ervas que venceu ano passado e que está na terceira prateleira do lado direito da geladeira, com aquele pão duro que você chama de torrada branca que tá tudo certo!
- Poxa Morte! Você sabe tudo! Como consegue isso? Pergunto curioso, já voltando com a bandeja com a bebida e os "beliskaites"
- É o lado bom do meu trabalho. O Diabo tem um convênio com uma industria de eletrônicos e ele sempre me manda algum equipamento em primeira mão para testar.
- Até o ano passado eu usava um computador de mão, mas desde então eu uso um Ipad.
Morte se servido de uma generosa dose de vodka com frutas vermelhas estala os lábios dizendo:
- Isso sim é que é bebida! Você não tem ideia de quantas casos já resolvi só deixando que ela tomasse um pouco a mais do que podia...
E assim, nosso papo prossegue, entre um gole aqui, uma torradinha ai, vamos conversando sobre filosofia, economia mundial, extraterrestres, o fim do mundo, mulheres e futebol. Preferindo Morte, não falar nem de política nem de religião.
Depois de uma longa conversa e sentir que ambos estamos com as energias renovadas, nos despedimos quando Morte me avisa que precisa sair logo do apartamento, porque nesse horário no final da tarde o trânsito vira um inferno.
Enquanto Morte desce as escadas, vou para a varanda para observá-lo sair pelo portão.
Percebo que há um certo brilho em seu olhar e tenho a impressão que de está balançando o corpo levemente de um lado para o outro.
Morte acena para mim, dá dois passos atravessando a rua e...
Some debaixo de um carro que passa a toda velocidade.
Por segundos fico atônico, preocupado.
Até me lembrar que essa foi mais uma das brincadeiras do Morte, para rir da minha cara e eu mesmo, começar a rir de mim.