6 de jul. de 2016

Saindo do sedentarismo

A esquerda eu em 1995, no final da faculdade de Direito. No centro, em 2013, quando cheguei a 100Kg. A direita eu em 2015.

Sedentários
Dois seres estavam sedentários, a muito tempo parados.
Muitas águas rolaram nos mais de 15 anos que ficamos sem pedalar, a bike Caloi e eu.
Ela estava parada, empoeirada, tomando sol, de um lado só, enquanto eu estava engordando e perdendo saúde, aos poucos, de forma tão imperceptível aos meus olhos que eu ainda me achava capaz de praticar esportes... um dia, se necessário.

A primeira tentativa
Saímos, para 20Km de pedalada.
Achava eu que ainda tinha condicionamento e segui no ritmo do meu amigo que já praticava ciclismo a um bom tempo.
Não era um percurso difícil. Era praticamente uma reta, margeando o Rio Sorocaba, mesmo assim, não aguentei e abri o bico, quando estava bem perto de chegar no apartamento.
Sorte que parei no topo de uma subidinha e avisei meu amigo que ia desmai...
Apagão!
Ele me segurou a tempo de não bater a cabeça no chão.
Logo veio o socorro do "Brimo" do restaurante Árabe ali na Washington Luiz, com uma garrafinha de água gelada.
Eu preocupado com não criar mais transtorno para meu amigo, que já estava atrasado para um compromisso família, chamei a minha esposa (na época), para vir me pegar, pois, dali até o apartamento tinha uma intransponível subida.
Ela chegou, ralhando como sempre, desmontamos a bike e colocamos no porta malas do carro.
Depois, coloquei no quartinho de despejo do estacionamento e ficou lá por um bom tempo.

Segunda tentativa
Agora, já aprendendo com o erro da tentativa anterior, comecei a me preparar aos poucos.
Primeiro, pesquisando orientações de treino, relembrando velhos exercícios físicos.
Adicionando uma dieta saudável. Deixando de lado as guloseimas e porcarias da vida moderna.

30 minutos de caminhada
Lembro do dia que iniciei a etapa da caminhada medicinal, diária, de 30 minutos.
Desci do apartamento, com roupas antigas, porém, adequadas fui para a calçada mais reta que tinha no quarteirão e dei o 1º passo.
Ao contrário do que disse o Astronauta, este foi um pequeno passo para a humanidade, mas, um grande passo para um homem sedentário.
Ganhei confiança...
Dei o segundo passo, comecei a ver que era possível me locomover com prazer e, ao final de alguns poucos minutos já estava suando, se o corpo não era de atleta, com meus 100Kg, pelo menos suava como um atleta em momento de superação.
Suor corria em bicas!
Continuei caminhando, afinal, a proposta era caminhar por pelo menos 30 minutos.
Então, comecei a sentir aquele gosto de "ferrugem" na boca, que a gente sente quando está sangrando. Coração no extremo do limite, ponteiro do marcador mental já me avisava que estava no "vermelho".
Conclui os 30 minutos, já contando com o retorno para o Apto.

Banho gelado
Bem gelado, com massagem nas pernas, muita água goela abaixo e um descanso mais que merecido, no sofá.
Não deixei o ânimo esfriar!
Pensei como poderia ajudar meu corpo a voltar a um condicionamento mínimo para não sentir que ia morrer, ao final de 30 minutos de caminhada lenta.

Natação
Escolhi voltar a nadar.
Comprada a sunga (enorme) e o óculos de natação, lá fui eu para sessões de natação.
Como eu sabia que estava fora de forma, não quis entrar para as aulas de natação, então, eu treinava onde tivesse espaço no cantinho de entretenimento da piscina.
Treinava a respiração, batia perninha segurando na borda da piscina, tudo como nos velhos tempos de natação na piscina da AFE.
Fui aumentando o fôlego aos poucos, intercalando com os 30 minutos diários de caminhada.

Um passo de cada vez
Assim fui avançando. Quando já não me sentia tão exausto com 30 minutos de caminhada, "desenterrei" a bicicleta, remontei ela e passei a pedalar.
Comemorei cada pequeno avanço!
O aumento da velocidade de deslocamento, encurtando as distâncias.
A primeira brisa no rosto.
Os sinais físicos de progresso.
Não foi uma salto, foi um trilhar, passo a passo, pedalada a pedalada.
Primeiro só nas retas e com a marcha mais leve.
Quando chegava nas subidas, não tinha vergonha, descia e empurrava a bicicleta.
Mantinha meu objetivo de melhorar a saúde. Sabia que com o tempo aquelas subidas seriam vencidas.
Treinos diários, nada era desculpa para deixar de treinar. Sim, sem perceber o que um desafio titânico, já tinha se transformado em treino prazeroso.
Não deu para pedalar as 19:00h? Sem problema! Pedalava as 20:00h, 22:00h ou até pelas manhãs.
Planejava o percurso com antecedência, de acordo com os objetivos:
Consolidar os ganhos de saúde ou fortalecer mais o corpo.
Chegou o dia de arriscar passar pelo tobogã, perto do SESC, seguir até a marginal Dom Aguirre e lá ampliar os treinos, fui tranquilo, empurrando nas subidas, mantendo as pedaladas nas descidas. Nada de "descer na banguela".
Primeiro dia nesse percurso, voltei exausto.
Segundo dia, um outro amigo me convidou para pedalar com ele, um domingo de manhã. Ele acabara de comprar uma bike nova. Sofri calado, para acompanhá-lo.
Ganhei até um elogio dele, por, como ele disse: Eu não ser um cara que atrasa a pedalada dele. Porque ele não gosta de pedalar com cara lento.
Treinei a semana toda e no domingo seguinte ele novamente me convidou para pedalar.
Já estávamos com condicionamento igual, já que ele, só pedalava aos domingos.
Mais uma semana de treino, eu aumentando as voltas no percurso e no sábado já estava fazendo média de 40Km por dia.
Novo domingo, novo convite do amigo, pedalamos eu tomando o cuidado para não deixar o amigo para trás (heheheh), mesmo assim, acho que ele notou algo.
Desse dia em diante, ele nunca mais quis pedalar comigo.
Coisas da vida!

Mundo novo
Junto com as pedaladas diárias, um mundo novo, chegou.
Novas roupas compradas, pois as velhas já não estavam servindo.
Novos rostos descobertos. Rostos de pessoas de passagem, ou de pessoas pedalando, pessoas correndo, caminhando e até, pessoas que estavam batendo papo em plena ciclovia, com suas roupas de igreja e a falta de conhecimento do que era aquela calçada vermelha ao lado da calçada comum.
Estava sozinho nas pedaladas e ao mesmo tempo não estava.
Já tinha me sentido só em plena multidão e até no casamento.
Agora era diferente.
Ora competia comigo mesmo, pedalando uma marcha mais pesada que na volta anterior, ou mais acelerado, ora competia com um ciclista que passava por mim e seguia a minha frente.
Transformava-o em "batedor" sem ele sequer ter consciência disso, pois, seguia a uma distância respeitosa.
Até velhos amigos, reencontrei pelos caminhos, chegando a pedalar junto por alguns domingos.

Altos e baixos
Tinha começado, com um passo, e terminado com a sensação de que ia morrer, depois de pouco mais de 1km de caminhada, no primeiro dia de nova vida.
E já estava conseguindo chegar a até até 60Km de pedalada, sem parar, sem descer do "banco". Parando apenas nos cruzamentos e para socorrer alguma pessoa, quando necessário.
Assim fechei os meses de Março de 2014 com 800km de pedalada, Abril, com 600Km e maio com outros 600Km.
Mesmo quando o divórcio surgiu, parei de treinar. Apenas fiz uns ajustes necessários.
Troquei de cidade, vim para Araraquara e passei a pedalar em novos percursos.
Depois de alguns meses, voltei para Sorocaba, como a bike ficou em Araraquara, por um tempo, comecei a correr sozinho, me preparar para encarar o "Clube da Corrida do SESC".
Depois de um tempo, já acreditando que não ia fazer muito feio, me inscrevi no clube da corrida.

Competições
Nova etapa, agora com treinos orientados pessoalmente, já que antes eu estudava lições de treinos em vídeos, revistas e sites especializados.
No clube conheci pessoas com as personalidades mais variadas.
Eu continuava fiel ao meu plano "secreto" de recuperar saúde.
Não fui pego pelo tal do vício de buscar a superação pessoal a qualquer custo.
Toda oportunidade de acompanhar incentivar alguém, de dar apoio, para mim era válida e deixava de lado a pressa, contudo, nunca saia da técnica. Falava o estritamente necessário, controlando a respiração e as passadas, atento ao percurso.
Assim, não participei de muitas competições, porém, procurei fazer uma de cada modalidade, até chegar ao objetivo final.
Embora os treinos no clube fossem só de quarta e sexta, eu continuei treinando diariamente, correndo e depois que busquei a bike em Araraquara, correndo e pedalando nos dias de recuperação dos treinos.
Focado no ganho de saúde e na superação das "limitações" declaradas pelos médicos, em decorrência do acidente gravíssimo que sofri aos 18 anos, segui aumentando a quilometragem.
Segui um bom plano de treinos. Como manda o "figurino", intercalando corridas curtas, médias, longões, tiros, exercícios físicos, pois, por um tempo, também, fiz um pouco de Ginástica Multifuncional, no SESC, além de treinar em casa.
O que me capacitou para participar das competições relacionadas, abaixo:
1ª - 16/11/2014 - Bauru - caminhada 4k
2ª - 07/12/2014 - Ipiranga - corrida de revezamento - 5k - 33 minutos
3ª - 31/12/2014 - Araraquara - Corrida de Santo Onofre - 7K - 45:22 minutos 168º
4ª - 01/03/2015  - São Paulo - 1/2 Maratona Internacional de São Paulo - 22K - 2:28:15
5ª - 17/05/2015 - Bertioga - 10K na areia, posição 191º, -  01:11:46
6ª - 28/06/2015 - Belenzinho - 6K, Tempo liquido 00:37:38
7ª - 09/08/2015 – Sorocaba – 11K, 4a. Corrida e caminhada Legal OAB Sorocaba - 1:14:08, 35º na categoria, 150º no geral
8ª - 13/09/2015 – Sorocaba – 10k, Correr e Caminhar - Posição 146 Masculino Tempo 01:06:15
9ª - 18/10/2015 – Santos – Corrida dos Comerciários - Posição 197 - 10k, Tempo 01:01:00 Equipe SOROCABA
10ª - 31/12/2015 - Araraquara - Corrida de Santo Onofre - Posição 188 na categoria - 6,53K - 45:49 Minutos
11ª - 24/04/2016 - 15 Milhas da Meia Maratona de SP - 3:09:57 - 1913º colocado. 280º na categoria.

Conclusão
Como pode ver, nunca subi no pódio, nem ganhei troféu, por outro lado, também nunca sofri lesões nas competições. Chegava inteiro, alegre, leve, sem dores, com condição de observar e curtir toda a beleza da competição e dos eventos após a chegada.
Sofri uma lesão, doméstica, quando enfiei o pé esquerdo dentro de um buraco no asfalto ao montar na moto, o que me custou reprogramar a meta final das competições, desta fase.
Assim, após me poupar por meses, reduzindo a carga de exercícios e protegendo bem o pé, nos dias de competição, faltando pouco mais de um mês da Maratona de SP de 2016, pedi minha reclassificação para a prova das 15 milhas.
Acho que fiz o certo, ao reconhecer que não tinha conseguido me preparar para uma Maratona.
Sei que valeu tudo que vivi até aqui, as amizades, as superações positivas, as alegrias e comemorações, como a do dia que consegui pedalar onde havia desmaiado anos antes, ou o dia que dava pulos de alegria, feito criança, por ter chegado ao primeiro 6K de distância em um treino.
Hoje sou uma pessoa mais leve em todos os sentidos, fruto dos anos de vida de bônus, que ganhei de Deus, com o simples gesto de dar o primeiro passo no dia que acreditei que podia voltar a ter saúde.
Agora chego ao fim de um ciclo...

O começo de um novo ciclo
Tenho algumas opções na manga, todas visando fazer bom uso, destes anos "Bônus" de vida.
Já fiz um pequeno "ensaio" e foi bom.

Quer arriscar um palpite? Ver se advinha qual é o meu plano?
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