8 de dez. de 2010

O Eletrônico Novo do Imperador


Este seria o novo título para o seu conto " A roupa nova do imperador", caso Hans Christian Andersen vivesse em nossos tempos atuais.

Não que a roupa ainda não seja um argumento para "enganar" as pessoas. Fazendo-as acreditar que não estando usando o último lançamento não são alguém!


É que o grande "babado" do momento é a eletrônica, os gadgets, as traquitanas.
Assim, a cada 15 segundos alguma grande empresa, aparece na mídia alardeando que vai lançar "em breve" um novo equipamento revolucionário.

Nas apresentações... que seguem a mesma narrativa e eloquência do ato da apresentação da roupa nova para o imperador... protótipos são apresentados e fotografados... filmados, suas qualidades são anotadas pelos presentes.
Depois, segue-se uma onda de matérias publicadas sobre o mais novo "engenho", cada revista, cada blog, cada canal de TV, comenta mais e mais sobre o equipamento.
Incluem pareceres pessoais de suas qualidades... reporteres e blogueiros resenham o equipamento, como se realmente o tivessem visto funcionando em suas próprias mãos.
Criam uma enorme expectativa sobre o lançamento e... na maioria das vezes... nunca aparecem. Nunca são lançados ou, quando são lançados, não são exatamente aquilo que era esperando.
Há! Mas o Ipad é tudo aquilo que se dizia dele!!!!
Será?
De qualquer modo não vale os R$ 3.400,00 que uma loja pedia por ele uma semana antes do lançamento no Brasil.

E para quê tudo isso?
Para que as grandes empresas recebam reforço de capital, de seus acionistas, linhas de créditos especiais e na maioria das vezes incentivos governamentais (olha ai o Imperador dando uma ajudinha).
Pequenas empresas ou microscópicas empresas também usam este artifício para levantar investimentos e arrecadar fundos e a grande jogada das pequenas empresas é vender o protótipo e a patente antes que descubram que o projeto é inviável ou o povo não quer consumir.

A diferença dos tempos de Andersen para hoje, talvez resida no fato de as empresas terem descoberto o "tempo mágico".
Aquele tempo ideal que deve durar entre o encantamento e o desinteresse por um produto.
Pois é no final do período de desinteresse que deve ser lançado o modelo 2 do produto.
É como a aplicação de heroína nos funcionários da fábrica do vilão Gorner em "A Essência do Mal".
A dose não pode ser nem muito alta, para não matar o funcionário, nem muito baixa, para não deixar ele perder o interesse pela droga.
Como ele mesmo explica a James Bond: "... Fazem fila como crianças para tomar a injeção. Devia ver seus rostinhos."

E se você tentar ficar fora da onda, apontarão para você com aquele olhar de incredulidade e dirão:
"Não está vendo a roupa nova do imperador? Não vê como ela é bonita e útil?"