15 de mar. de 1998

O primeiro terno a gente nunca esqueçe

15/03/1998

Era um tempo de novas esperanças e expectativas.
O mundo e meus planos de vida tinham mudado radicalmente e eu estava trabalhando em Campinas, SP.
Para ser mais preciso, eu havia me tornado sócio de um escritório de cobrança amigável e judicial.
Logo que pude, fui comprar um terno que deveria ser o meu terno principal para o trabalho diário, então, junto com minha atual esposa, fomos procurar um terno, bom, bonito, resistente e barato.
Não seria o meu primeiro terno, nas seria o primeiro nesta nova fase de vida.
Pernas para cá, pernas para lá e chegamos à Loja Colombo.
Encontrei um "kit trabalhador" comporto por um sapato, um terno, um cinto, uma gravata e uma camisa "de algodão egípcio" (insistia em dizer o vendedor), por um preço, realmente, especial. O preço estava bem inferior a qualquer outro conjunto da loja.
Experimentei o terno debaixo de umas lampadas dicróicas que não deixavam notar direito que cor o terno tinha.
Para mim eu estava experimentando um terno marrom, ao passo que para quem me acompanhava o terno parecia ser azul.
A medida foi tomada, marcações feitas o pagamento efetuado.
Alguns dias depois, retornei para retirar o terno, já ajustado para mim.
Mal sabia que os dias de terror e vergonha estavam por vir!

Quando usava o terno à noite, ele parecia ser azul marinho.
Sob flashs de câmeras fotográficas ele ficava grafite.
Até aqui, tudo aceitável, não fosse o fato do cinto, das meias e do sapato serem marrons.
E a pior situação era sob o sol escaldante da caminhada pelo centro de Campinas, para chegar no fórum ele parecia VINHO. Não um vinho qualquer, mas sim, um vinho tinto, daqueles que parece até artificial e que chega a doer na vista.

Em certa ocasião foi até interessante esse efeito "mágico" do terno, já que participei da cerimônia de um casamento de uma amiga da minha atual esposa, que ocorreu no entardecer e quando cheguei no salão de festa já sob a luz da lua, uma outra amiga dela perguntou se eu havia trocado de terno entre a cerimônia e o jantar.

Pena que na maioria das situações essas mudanças de cores, causavam risos jocosos.
E acredito que não fui aprovado em uma seleção pois no dia da entrevista com o Diretor da empresa eu fui com o Terno Vinho... e fez muito sol no dia!
Concordo que o sapato é super resistente, uma vez que tenho ele até hoje e não consigo me livrar dele de jeito nenhum. Nem jogando pela janela pois o "maledeto" volta como um bumerangue.
É verdade, também, que a camisa de "algodão egípcio" dura para sempre e estão ai as múmias para comprovar essa resistência do tecido, mas, alguém já viu uma múmia que não estivesse com cara de roupa amassada?
Sim, a camisa não ficava passada nem com uso de rolo compressor de empresa de terraplanagem.
Ouvi por anos, os palavrões mais criativos e diversos, proferidos por quem tentasse passar aquela camisa.

Para finalizar fica a questão:
Macada deu o vendedor de não avisar que o terno estava em promoção por ser de tecido "furta cor" ou como alguns disseram depois "fruta cor" e por não avisar que algodão egípcio só serve para embalsamar múmia.
Não só fiquei, chateado com o fato, como nunca mais coloquei um pé dentro de outra loja da Colombo, e nem pretendo, estejam seus produtos com que preço for, ou até mesmo sendo doados.
Para o vendedor, foi apenas, mais uma venda...
E para a loja?
Quantos ternos "fruta cor" tinha o lote comprado?
Quantos clientes, nunca mais voltaram a comprar nas lojas da rede?

Obs.: Consegui me livrar do terno, depois de alguns anos e... é claro que avisei a pessoa que aceitou a doação que o terno mudava de cor conforme a luz.
 Afinal, não sou tão cruel assim, com uma pessoa!